Mercado do tabaco resiste a imagens chocantes nos maços de cigarro
Desde quarta-feira (20), todos os maços de cigarros entregues às tabacarias francesas exibem “imagens chocantes”: pulmões enegrecidos, mãos maltratadas para simbolizar o envelhecimento, seringas para denotar dependência... Seria isso suficiente para enfraquecer um mercado que, em termos de valores, nunca parou de crescer na França?
Essa nova medida de prevenção de riscos do tabaco havia sido anunciada em abril de 2010 pela ministra da Saúde, Roselyne Bachelot. Alguns fabricantes, que tinham um ano para se adaptar às novas regras, se adiantaram e começaram a entregar os primeiros maços ilustrados dois meses antes que a medida entrasse em vigor.
A França, dessa forma, passa a seguir o exemplo do Canadá, do Reino Unido e da Bélgica. Foi em um banco de imagens constituído na Europa que o Ministério escolheu as 14 figuras que ilustram os riscos de saúde associados ao tabaco, que causa a morte de 66 mil pessoas a cada ano na França. Cada foto é acompanhada de um texto explicativo e do incentivo para que se contate o Tabac Info Service.
“Estamos contentes, pois vínhamos pedindo por essa medida há quase dez anos”, afirma Yves Martinet, presidente do Comitê Nacional contra o Tabagismo (CNCT), que acrescenta: “Temos dois objetivos. Queremos uma informação clara sobre os riscos à saúde. E queremos controlar os maços de cigarros utilizados como ferramenta promocional pelos fabricantes”. Sobre esse último ponto, a satisfação das associações não é total, longe disso.
Limitar o marketing
“A batalha do maço”, como é chamada por Martinet, se voltou a favor dos fabricantes de cigarros. Além disso, um cliente que entra em uma tabacaria não deverá ver nenhuma diferença nas prateleiras. E com razão. As “fotos chocantes” foram colocadas no lado de trás dos maços. Portanto, elas não aparecem quando o cliente compra seu maço, nem quando ele o abre. Ademais, o tamanho da imagem se limita a 40% desse espaço.
Mais do que nunca, o marketing dos fabricantes tem se concentrado no próprio produto. Desde o tamanho dos cigarros, com a expansão dos slim ou até dos super slim, o aumento das opções de mentolados, até as novas embalagens, é feito de tudo para atrair os fumantes, especialmente os jovens e as mulheres. Portanto, o maço tem um papel preponderante na sedução do consumidor.
Para tentar limitar esse marketing, as associações de combate ao tabagismo defendem uma medida radical: o “maço neutro”. Idêntico para todos, pouco atraente, com o nome da marca escrito em uma fonte padrão. A outra grande briga das associações é pelo aumento do preço do maço, visto que elas consideraram o último aumento, estabelecido em 6% em novembro de 2010, limitado demais para ser eficaz.
Todas essas medidas vêm sendo tomadas sendo que o número de cigarros vendidos na França voltou a subir a partir de 2009. Uma tendência que vem se mantendo neste ano. Segundo os números publicados pela revista dos donos de tabacaria “Le Losange”, as vendas de cigarros aumentaram 0,2% em termos de volume nos dois primeiros meses de 2011.
Em termos de valores, o mercado francês do tabaco nunca parou de crescer, graças ao reajuste regular dos preços. Ele cresceu mais 2,58% em janeiro e fevereiro. É uma situação totalmente ambígua. De um lado, as exigências da saúde pública; de outro, o interesse do Estado em embolsar os impostos gerados pelo tabaco (cerca de 80% do preço de venda). Em 2010 eles ultrapassaram, pela primeira vez, a marca dos 10 bilhões de euros. Sem mencionar a influência dos 28 mil donos de tabacaria junto aos políticos e o lobby dos fabricantes de cigarros.
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